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painel Bela Mandil

Inauguração da Exposição
“Dando asas aos sonhos da juventude” 
no 70º Aniversário da Jornada de Bela Mandil
Galeria da Biblioteca José Mariano Gago 
Olhão , 23 de Março
 
Intervenção de Vasco Cardoso, membro da Comissão Política do CC do PCP
 
Caros camaradas, estimados amigos
 
Com a inauguração hoje da exposição “Dando asas aos sonhos da juventude” na biblioteca municipal de Olhão, o PCP presta a sua justa homenagem aqueles que, há precisamente 70 anos, realizaram aquela que ficou conhecida como a Jornada de Bela Mandil e que constituiu um momento de grande significado na luta da juventude portuguesa contra o fascismo, pela liberdade e a democracia. Uma homenagem que continuará, já no próximo sábado, dia 25, com a realização de uma sessão evocativa desta data histórica no salão da Junta de Freguesia de Pechão e para a qual estão desde já convidados.
 
Para o PCP, é justo, oportuno e útil celebrar e evocar, com gratidão e orgulho, os 70 anos da grande e combativa jornada de convívio e de luta pela liberdade realizada em Bela Mandil  em 23 de  Março de 1947 e promovida pelo Movimento de Unidade Democrática Juvenil, organização unitária, autónoma, democrática e unificadora da juventude portuguesa, fundada em 1946 e em cuja concepção e desenvolvimento o PCP desempenhou um papel fundamental. 
À distância de 70 anos, é útil recordar para os mais jovens que o fascismo português, que teve o caminho aberto pelo golpe militar de 28 de Maio de 1926 e que, já com a predominância de Oliveira Salazar, se institucionalizou e estruturou, no plano teórico e prático, com a aprovação e entrada em vigor da Constituição de 1933 (sujeita a um plebiscito em que as abstenções foram contadas como votos a favor) representou a brutal reacção dos grandes interesses económicos contra a República instaurada em 1910 e contra o movimento operário, sob a influência ideológica das correntes mais reaccionárias da Europa de então e designadamente do fascismo italiano.
 
O PCP foi a única força ou corrente política que desvendou a verdadeira natureza de classe da ditadura fascista ao caracterizá-la muito justamente como a «ditadura terrorista dos monopólios e dos latifundiários, associados ao imperialismo estrangeiro».
 
O fascismo português, entre tantos outros aspectos, significou atraso, pobreza e brutal exploração dos trabalhadores, a manutenção de um bárbaro sistema de dominação colonial que conduziu, no final, a treze anos de sangrentas guerras coloniais.
 
Significou a eliminação de todas as liberdades democráticas, dos sindicatos livres, a instauração de um partido único e a ilegalização e proibição de todos os outros, a instauração da censura, a realização de farsas eleitorais marcadas por fraudes gigantescas e a imposição de tenebrosos obstáculos às forças da oposição.
 
E, sempre ao serviço da intervenção coerciva do Estado  na aceleração da concentração capitalista e da exploração das colónias, criou e usou um poderoso e cruel aparelho repressivo, que teve como instrumentos a tortura, assassinatos, a prisão de várias dezenas de milhar de antifascistas e a condenação a longas penas de cadeia no Continente e no Campo do Tarrafal dos mais destacados combatentes pela liberdade e a democracia. 
 
É neste quadro geral, momentânea e escassamente atenuado nos aspectos repressivos pelas concessões a que Salazar e o regime foram obrigados pela  vitória dos Aliados contra o nazi-fascismo, que logo no seu primeiro ano de existência (1946) o MUD Juvenil desenvolve um intenso e audacioso trabalho organizativo. 
 
Mantém ao mesmo tempo, uma intensa actividade antifascista, protestando contra a devassa das lista do MUD e a perseguição aos que subscreveram essas listas de apoio, participando nas comemorações do 31 de Janeiro, do 8 de Maio (1º aniversário do fim da guerra) e do 5 de Outubro, iniciando a publicação do Boletim Central do MUD Juvenil entre outros aspectos, procurando reforçar a sua intervenção nos movimentos associativos do ensino secundário e universitário.
 
Particular relevo ganhou a Semana da Juventude (de que a Jornada de Bela Mandil fez parte) promovida entre 21 e 28 de Março a nível nacional, abrangendo iniciativas como a promoção de reuniões públicas para discussão de problemas da juventude, a promoção de festivais, iniciativas culturais e desportivas, passeios e acampamentos, uma campanha de solidariedade com os presos políticos.
 
A partir daí e recompondo-se rapidamente da escalada repressiva de Maio de 1947 que levou à prisão de todos os membros da  Comissão Central do MUD Juvenil (excepto Octávio Rodrigues que a PIDE não identificou como Octávio Pato), e até à sua extinção em 1957, na sequência da sentença do Tribunal Criminal Plenário do Porto em 20.6.1957 que o declarou ilegal, o MUD Juvenil representou um poderoso afluente da resistência antifascista.
 
Reunindo  cervca de mil participantes, e contando com expressiva participação de jovens do Algarve, o Festival da Juventude realizado em Bela-Mandil em 23 de Março de 1947 constitui uma tocante e emocionante momento da vida do MUD Juvenil.
 
Com um interessante, rico e criativo programa de palestras, canções, recitais de poesia e danças,  o Festival, que tinha um carácter perfeitamente legal, viria a ser cercado por um forte e armado contingente policial (PSP, GNR e PIDE) que intimou os seus organizadores a que todos os participantes abandonassem aquele local.
 
Na sua retirada, os jovens participantes, como protesto , cantaram o Hino Nacional, o que também foi proibido,  e quando, escoltados pelas polícias como se de criminosos se tratasse, atravessavam a vila em direcção à estação de comboios foram atacados à coronhada, sendo ainda disparados tiros de espingarda e rajadas de metralhadora por cima da cabeça dos manifestantes.
 
A repressão fascista desarticulou a normal realização do Festival  de Bela-Mandil mas só acabou por fortalecer nas massas juvenis de orientação democrática uma acrescida vontade de continuar a lutar pelos seus objectivos, ideais e valores.
 
Camaradas e amigos
 
Realizada no concelho de Olhão, terra de homens e mulheres ligados à vida do mar, seja na faina da pesca, seja na apanha das riquezas da Ria Formosa, seja ainda nas fábricas de conserva que marcaram grande parte do século XX neste concelho (algumas, poucas, perduram ainda hoje), a Jornada de Bela Mandil faz jus à história secular da luta dos trabalhadores e das populações de Olhão pela melhoria das suas condições de vida, pela liberdade e a democracia. Uma luta que perdura até hoje e que se projecta para o futuro, como factor incontornável de avanço e transformação social. 
 
Quando as populações das ilhas barreira da Ria Formosa lutam hoje contra as demolições e pelo direito a viver e produzir nestes territórios, quando os mariscadores e viveiristas se organizam e mobilizam em defesa da sua actividade produtiva, quando as populações do concelho reivindicam melhores cuidados de saúde e melhores serviços públicos, quando os trabalhadores do sector público e privado exigem medidas de combate ao desemprego, à precariedade e pelo aumento de salários, inserem-se nas melhores tradições de luta do povo de Olhão.
 
Uma luta que contou, conta e contará, com a activa solidariedade e empenhamento do Partido Comunista Português. Uma luta que, com avanços e recuos, com períodos de maior fulgor e fases de refluxo, mas que mostra que é de coragem, de consciência política e de classe, de audácia e determinação que se escrevem as mais belas páginas da luta de um povo. 
 
Estamos numa fase nova da vida política nacional. Com a luta e a acção decisiva do PCP, foi possível afastar um Governo, do PSD e CDS, que durante quatro anos infernizou a vida do país, empobreceu a população, levou, como nenhum outro governo tinha levado desde os tempos do fascismo os níveis de exploração de quem trabalha. Abriu-se assim a porta à reposição de direitos e rendimentos que tinham sido roubados e que muito valorizamos. Mas a vida do país, as suas dificuldades e problemas estruturais, tão presentes na situação concreta em que se encontra o concelho de Olhão, requerem uma outra resposta, requerem uma outra política. 
 
O concelho de Olhão tem grandes potencialidades produtivas, nas pescas, na indústria, na agricultura que podem e devem ser potenciadas. As escolas, os centros e extensões de saúde, os serviços públicos estão carentes de meios e de pessoal. Os salários são baixos, a precariedade é enorme e muitos filhos de Olhão foram e estão a ser obrigados a procurar outras paragens no estrangeiro para terem direito a uma vida que aqui lhes continua a ser negada. As vias de acesso e o investimento público continuam sem as respostas que se exigiam. A variante a Olhão não está construída, a requalificação da EN 125 continua parada, as portagens na Via do Infante são um assalto, as dragagens na Ria Formosa ou os investimentos no Porto de Olhão arrastam-se há vários anos. Tal como o país, Olhão, as suas gentes, merecem e têm direito a uma outra política. Uma política patriótica e de esquerda que não se submete nem às imposições da União Europeia, nem aos interesses dos grandes senhores do dinheiro.  Os combates de hoje são diferentes daqueles que se travaram na década de 40 do século passado. Mas exigem a mesma preserverança, a mesma combatividade, a mesma determinação para que possam ser vencidos. 
 
A melhor homenagem que os comunistas, os democratas e patriotas, podem prestar àqueles que há 70 anos decidiram erguer a sua voz, é a da continuação da luta por uma vida melhor. Podem contar com o PCP e saibamos nós estar à altura dessa responsabilidade.
 
Viva a luta dos trabalhadores e dos povos
Viva o 25 de Abril
Viva o PCP